sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

As lições que não aprendemos

                                                                      


" Os índios kayapó cultivam a roça por dois ou três anos. Depois ela não recebe mais cuidados, porém, continua fornecendo batata-doce, inhame, cará, mandioca, mamão etc,. por mais quatro ou seis anos. Seus bananais frutificam durante 25 anos. A roça 'abandonada' oferece alimentos aos animais, tornando-se campo de caça, próximos às aldeias. Integrada ao ecossistema, a roça kayapó é planejada para fornecer alimentos, ervas medicinais, tintura, sapé, caça etc. Ao ser 'abandonada' definitivamente, começa o seu reflorestamento.

A caçada fornece carne e controla a população de animais, evitando que eles comam as novas roças. Ao caçar, os kayapós poupam machos e fêmeas mais belos, para que melhorem a espécie ao se reproduzirem. Ao longo das trilhas e caminhos que ligam suas lavouras, os kayapós plantam árvores que dão frutas e atraem caça: marmelo, pequi, jambo, açaí, jatobá, pariri, imbaúba, cacau, castanha-do-pará (que demora até 25 anos para frutificar). Para obter sal, plantam tucumã; com o urucu e o jenipapo fabricam tintas. No território kayapó encontram-se lima, laranja-da-terra, murici, limão, mangaba, abacate, goiaba, jurubeba, cupuaçu etc. e babaçu, do qual extraem óleo, que exportam para a Europa.
Atraídos pelas árvores, os animais comem seus frutos e carregam as sementes para longe, replantando-as em outros locais. Assim, as 'trilhas' entre as aldeias são ladeadas de árvores que alimentam os kayapós em suas viagens, e onde entremeiam mandioca, banana, inhame, cará.

Ao limparem a terra para plantar, os kayapós traçam um terreno circular. Derrubam as árvores de modo que seus troncos tombem dentro do círculo e as copas se amontoem na periferia, deixando corredores entre elas. Esse processo favorece o apodrecimento das folhas que adubam os futuros plantios. O antropólogo norte-americano Darrel A. Posey, num artigo para a revista Etnabiologia ('Manejo da floresta secundária, capoeira, campos e cerrados /kayapó/'), descreve como esse povo indígena 'planta' ilhas florestais dentro do cerrado, transportando adubo natural a longas.

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